A sua sabedoria traz novas cores ao universo cervejeiro e contribui para chamar mais pessoas a esta arte milenar. Conhece melhor o papel da beer sommelière através de Marta Fraga, a responsável por este ofício no Super Bock Group.

Beer Sommelière do Super Bock Group

O que faz uma sommelière de cerveja (ou beer sommelière)?

Provas de cerveja, recomendações de harmonizações, de gastronomia e de cerveja. E vamos ao detalhe: aos copos e temperatura ideais para servir a cerveja. As cervejas são histórias líquidas, por isso acredito que o sommelier de cerveja traz visibilidade e valorização a esta indústria, pela sua multiplicidade e pluralidade.

O que te despertou para esta arte?

Entrei na Casa da Cerveja em 2015, para guia de interpretação. À medida que o projeto foi avançando, tornou-se imperativo ter mais conhecimento sobre cerveja, os seus estilos e ligações gastronómicas. A minha vontade de aprender e de saber mais sobre a cerveja levou-me a tirar o curso de beer sommelière em 2016, em Lisboa, com a ajuda da academia Doemes.

Sempre gostei muito de cerveja, Quando percebi que, por beber só um estilo, tinha andado a perder todos aqueles sabores, cores e aromas, foi natural chegar a este curso e tirar o máximo proveito dele.

Como é, para ti, um dia normal na Super Bock?

No dia a dia posso estar a traçar perfis sensoriais das cervejas ou responder aos pedidos de harmonização que me são feitos. Posso também dar workshops ou a fazer um beer masterclass num determinado contexto ou evento Super Bock, para fomentar a cervejeira ou dar visibilidade às matérias-primas. Isto porque, quando se começa a falar de maltes, cevada, trigo ou lúpulo, há conceitos que as pessoas ainda desconhecem.

Quais as características de um bom beer sommelier?

Em primeiro lugar, é necessário ser-se bom do ponto de vista técnico, ter facilidade em encontrar os atributos ou o perfil sensorial de uma cerveja. É preciso gostar de cerveja, prová-la constantemente, mas também estar sempre atualizado com as novidades e tendência do mercado, com os estilos de cerveja.

Há muitos mitos relacionados com a cerveja, muita informação disponível mas que não é a mais correta. Esse é provavelmente o maior desafio: o de lutarmos contra a informação que as pessoas podem encontrar facilmente na internet mas que não é verdadeira.

Qual a melhor forma de te manteres atualizada?

Ler e pesquisar. Claro que as viagens têm outra riqueza visual, olfativa, tátil, é muito diferente aprendermos uma experiência através do que está escrito, mas não tenho feito viagens com caráter cervejeiro. Faço viagens virtuais.

Como se transmitem, às pessoas, conceitos como sabor e aroma de uma cerveja?

O sabores salgados, ácidos, amargos ou doces são percebido em boca, e as pessoas têm essas referências quando pensam em cada um deles. Tudo o resto que venha numa cerveja – a levedura, as especiarias, o ligeiro aroma a fumo, frutas como a banana, os maltes e lúpulos – flores, frutas tropicais, herbários ou terrosos –... tudo isso pertence ao campo dos aromas.

Ou seja, é uma experiência sensorial de nariz. Diria que 80% daquilo que dizemos que é o sabor, é na realidade o aroma.

Qual o teu estilo de cerveja preferido?

Sou fã dos aromas do lúpulo – das várias centenas que existem. Por isso, os meus estilos de cerveja preferidos são aqueles em que o lúpulo tem maior brilho, como as India Pale Ale (IPA).

Na base deste estilo temos a cerveja pale ale, que lhe deu origem. É interessante ver como temos hoje diversas interpretações de IPA e de pales ales, que poderão ser American Pale Ales, se os lúpulos americanos forem utilizados. Da mesma forma que os vinhos evoluem para novas perspetivas, também as cervejas têm esta evolução e esta modernidade.

Esta riqueza não pode ser perdida, porque o mercado está a oferecer uma grande quantidade de estilos e formas de fazer cerveja. Nuns casos, completamente novas; noutros, vão buscar a sua origem mais primordial.