A cerveja é uma bebida democrática: para quem a bebe, que tem à disposição uma oferta extensa e variada, mas também para quem a produz. Prova disso é a inovação constante do setor, que procura nas matérias primas de cada país ou continente novos sabores e aromas. Descobre alguns ingredientes menos conhecidos e que podes encontrar na cerveja.

Fruto presente em quantidades generosas na Europa do Sul, a castanha tem inspirado os microcervejeiros de Itália, França, Espanha e Portugal a desenvolverem novas receitas e inovarem nos aromas e sabores da cerveja. Apanhada no outono, a castanha dá à cerveja uma cor acastanhada e um corpo denso e cremoso, que apetece experimentar.

Em Portugal, destaque para a abundante produção deste fruto no nordeste trasmontano, de onde é natural a cerveja Judia, uma Brown Ale com um teor alcoólico (ABV) de 7%. Na Europa, uma das primeiras cervejas a utilizar a castanha como ingrediente diferenciador foi a Pietra.

Trata-se de uma Amber Lager francesa com um ABV de 6%, produzida desde 1994. Delicada, robusta e suave, a Pietra tem corpo médio e carbonatação elevada. O final é maltado, levemente tostado e condimentado.

De aroma e sabor complexos, a baunilha, ou melhor, o seu extrato, pode ser encontrado em cervejas típicas do Inverno, de sabores tostados, aromas a chocolate, café, especiarias e teores alcoólicos mais elevados. A baunilha combina com os estilos Porter, Stout ou Brown Ale, aportando um aroma doce às suas composições ricas e complexas. Esta especiaria aromatizante pode ser adicionada em qualquer parte da fermentação, sendo que, na maioria das vezes, este processo é feito no final da ebulição.

A manga, laranja, maçã, pera ou frutos vermelhos não são propriamente ingredientes novos na produção de cerveja, de tal modo que até existe uma categoria denominada Fruit Beer. Ainda assim, a inclusão de fruta ou extrato de frutos no processo de fermentação de cerveja não é muito habitual.

Entre os estilos mais conhecidos que recorrem à fruta encontram-se as Fruit Lambic belgas, que procuram sabores complexos através da adição de frutos vermelhos, mas também se fazem experiências em algumas IPA, ou mesmo outras cervejas que sejam sujeitas a envelhecimento em barricas – as Barrel Aged.

Para ser considerada cerveja, deve-se sempre usar uma base de malte, mas a adição de fruta ajuda a criar novas cores, sabores e aromas. No entanto, trabalhar este ingrediente requer maestria e excelência cervejeira, dada a quantidade de açúcar fermentável que existe nela. Não é para todos.

O sabor e aroma característicos do café estão presentes em vários estilos, nomeadamente nas cervejas mais escuras, ricas e maltadas, como a Porter, Stout ou mesmo algumas Brown Ale. Tal deve-se, essencialmente, às características dos maltes mais torrados que se usam na conceção destes estilos.

No entanto, de forma a sublinhar ainda mais esta característica, o café pode mesmo ser acrescentado em grão ou já moído: quer durante o processo de fermentação ou quando a cerveja já está produzida e se encontra na fase de maturação.

A versatilidade do café proporciona um sabor suave a todos os estilos de cerveja, harmonizando na perfeição com as sobremesas, queijos e até carnes grelhadas.

Não foi preciso chegar ao século XXI, e ao grande pulo de inovação do setor, para falar da integração das especiarias no fabrico da cerveja. Na verdade, as especiarias são já antigos ingredientes da cerveja, sendo utilizadas, juntamente com outras ervas disponíveis no mundo natural, para dar sabor à bebida antes de o lúpulo ganhar o seu espaço na receita.

Hoje, as especiarias são um ingrediente regular na cultura cervejeira belga e fazem parte do cardápio de muitas cervejeiras artesanais dos Estados Unidos, Dinamarca, Reino Unido e Itália.

Especiarias como a noz-moscada, canela, sementes de coentro, pimenta, gengibre ou, mais recentemente, o açafrão são adicionadas para contrabalançar com os aromas do malte e lúpulo, influenciando o sabor da cerveja e complementando as características gustativas dos ingredientes tradicionais.

Inovação comummente atribuída aos colonos britânicos que viviam no território que é hoje os Estados Unidos, durante o século XVII, a Pumpkin Ale, ou cerveja de abóbora, aproveita este ingrediente nutritivo e rico em amido e outros açúcares. Esta planta, que pode ser integrada de várias maneiras na produção da cerveja, geralmente dá à Pumpkin Ale uma cor laranja a âmbar e um aroma de biscoito.

Apesar de ter como ingrediente principal a abóbora, a Pumpkin Ale também tira partido dos sabores e aromas complexos de especiarias como a canela, noz-moscada, pimenta, baunilha ou gengibre. Não sendo propriamente um estilo, normalmente a Pumpkin Ale acaba por se basear num determinado estilo de cerveja que é por sua vez enriquecido com a abóbora.

Entre os estilos mais comuns onde se pode usar este ingrediente encontram-se as Pale Ale, Wheat Beer, Porter e Stout. Cada uma tem as características próprias do estilo, mas a adição de abóbora à bebida proporciona, normalmente, um saboroso final de boca levemente adocicado e seco, que tornam esta uma apetecível cerveja de Outono.