Há 500 anos, a Roggenbier deixou de ser bebida pelos cidadãos da Baviera. A cerveja, que era produzida com até 60% de malte de centeio, foi uma das vítimas de um período de más colheitas daquela região, que levou à utilização exclusiva daquele cereal para a produção de pão.
Esta é uma parte da história. A outra razão para o súbito desaparecimento da Roggenbier do cardápio cervejeiro bávaro prende-se com a promulgação da Lei da Pureza Alemã, em 1516. Esta famosa lei posicionou o malte de cevada como um dos três ingredientes principais e obrigatórios da cerveja da Baviera e eliminou o centeio, para sempre, das cervejeiras, bares e paladares dos bávaros.
A Roggenbier, cuja tradução literal é “cerveja de centeio”, foi produzida pela primeira vez em Regensburg, cidade que goza de uma geografia única, com a confluência dos rios Danúbio, Naab e Regen. Sendo a abundância de água fresca um dos fatores essenciais para garantir cerveja de qualidade, não será difícil de adivinhar que a Roggenbier seria uma das principais cervejas da região, naquela época.
Ainda assim, não era a cerveja mais consumida, nem a mais popular. A sua reputação de cerveja simples, ideal para ser servida às refeições, ter-lhe-á retirado algum público. Curiosamente, terão sido estes mesmos atributos que permitiram que, em 1988, a cerveja voltasse a ser produzida com outras nuances e técnicas, mas mantendo a sua personalidade e singularidade intactas.
Quais as características da Roggenbier?
A Roggenbiner é uma dunkelweizen produzida com centeio em vez de trigo. Uma cerveja leve e moderadamente condimentada.
Aroma: O centeio é predominante no aroma da Roggenbier, misturando-se, por vezes, com notas suaves e moderadas de levedura weizen (cravo e ésteres frutados, banana e frutas cítricas).
No copo: A aparência da Roggenbier varia do cor de laranja-acobreado até ao avermelhado bastante escuro, quase castanho. A espuma é abundante e cremosa, turva e nebulosa, bastante densa e persistente – por vezes, chega a ser espessa e compacta.
Na boca: Corpo médio a médio-cheio, com carbonatação alta e moderadamente cremosa. O teor alcoólico varia dos 4,5 aos 6%.
Sabor: O sabor moderadamente forte e condimentado do centeio faz da Roggenbier uma cerveja que não cai no esquecimento. O amargor é médio a médio-baixo, possibilitando a presença de uma doçura maltada, por vezes com um toque de caramelo, aquando do primeiro contacto com as papilas gustativas; e dos sabores de centeio e da levedura, numa segunda fase. O final é moderadamente seco, com ligeiro amargor de centeio no retrogosto e sabor moderado a baixo, condimentado, herbal e floral do lúpulo.
Em 1988, a Roggenbier voltou a ser produzida na Baviera, mas hoje em dia é mais fácil encontrá-la nos Estados Unidos. Na génese deste renascimento estiveram, entre outras, cervejarias artesanais norte-americanas como a Reuben’s Brews (Seattle, Washington), a Fate Brewing (Boulder, Colorado) ou a Great Divide (Denver, Colorado).
As três marcas estão a tentar direcionar os amantes cervejeiros norte-americanos na busca dos sabores únicos da Roggenbier. Como? Atraindo-os pela suavidade e facilidade com que se bebe esta cerveja, aquilo a que chamamos de drinkability, mas também pelo enorme potencial que a Roggenbier tem nas harmonizações gastronómicas.
Se és adepto das harmonizações com cerveja, fica a saber que o leque de opções da Roggenbier é grande e variado: saladas leves com queijo de cabra, sandes de requeijão, ovos mexidos com pão de centeio e pastéis de bacalhau, por um lado; carnes de churrasco, pato assado, salmão fumado, truta ou vitela, por outro. Finalmente, a Roggenbier harmoniza com vários tipos de sobremesas, fruto dos sabores e aromas a especiarias e do centeio.
Nesta versão moderna, conta com uma Roggenbier de aparência escura e um teor alcoólico de 5%. A verdade é que a Roggenbier continua a ser uma cerveja simples e, como há 500 anos, tem uma ligação umbilical às cervejas de trigo, nomeadamente dunkelweizen. A grande diferença é a utilização do centeio, agora reduzida a cerca de 50% da bebida – um pouco menos do que a versão medieval.
De qualquer modo, se tiveres a oportunidade de beber uma versão revista e aumentada da Roggenbier, não hesites e senta-te na máquina do tempo. Não te vais arrepender. Prost!
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