Cervejas desaparecidas: London Brown Ale
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Cervejas desaparecidas: London Brown Ale

Falar dos primórdios da cultura cervejeira inglesa é recordar a London Brown Ale. Este antepassado da Porter, hoje prestes a entrar em extinção, deu de beber a milhões de súbditos de Sua Majestade. Um brinde a ela.

E jovens e velhos saem para brincar

Num feriado soalheiro

Até que a luz do dia falhe

De seguida, para a cerveja acastanhada

John Milton, L’ Allegro (1645)

A tradução para português deste poema de John Milton não foi feita por um profissional. Longe disso. No entanto, mais coisa menos coisa, percebe-se que o poeta britânico anseia pela noite daquele feriado soalheiro para beber a sua London Brown Ale.   


A cerveja acastanhada - brown, em inglês - existe desde os primórdios da cultura cervejeira. Tal facto deve-se à cor que o malte ganhava após a secagem pelo fogo. Sim, pelo fogo. Esta era uma das técnicas usadas pelos mestres cervejeiros para secar o malte antes das tecnologias ligadas à torragem serem inventadas. Por vezes, o malte era secado ao sol, o que lhe dava uma cor mais pálida. Ainda assim, o fogo foi essencial para que a London Brown Ale fosse a mais popular britânica durante longos séculos, assim como uma das mais antigas. 


Este estilo teve períodos de maior ou menor relevância na sociedade, como todas as grandes cervejas que sobreviveram às eras medievais e chegaram, mesmo que com uma receita modificada, aos nossos tempos. No entanto, o sucesso da London Brown Ale manteve-se constante até ao início do século XVIII, quando foi destronada pelas Pale Ale, nomeadamente pelas refinadas IPA. Um trajeto impressionante e que ajuda a contar, gole a gole, um pouco da história das ilhas britânicas ao longo dos últimos séculos. 

E assim surgiu a clássica Porter

Quando as Pale Ale apareceram nos pubs, os produtores de London Brown Ale perceberam que estavam em maus lençóis. Ultrapassados na cerveja preferida dos britânicos, mas não vencidos. A solução foi encontrada rapidamente: mudar o sabor e aroma das suas cervejas e refazer as receitas para apelar a um público cada vez mais exigente. 

Nesta fase, a London Brown Ale tornou-se mais alcoólica e amarga, sendo agora envelhecida durante um período mais extenso. O resultado trouxe uma versão mais seca e com um amargor mais acentuado que a original - e assim nasceu a English Porter, estilo que ainda hoje é apreciado pelos amantes de cerveja e que, à época, era mais saboroso e económico que a maioria das alternativas.

Popular entre os caixeiros e carregadores de Londres, os porters, a English Porter relegou a London Brown Ale para os livros de História. Mas não foi o fim do estilo. Em 1902, este reapareceu pela mão da cervejeira Mann, Crossman & Paulin, situada em Londres. A Mann’s Brown Ale, que se tornou a definitiva London Brown Ale, foi desenvolvida por Thomas Wells Thorpe, como resposta à crescente popularidade das cervejas pretas e mais doces - as Stout.


Promovida como a “cerveja mais doce de Londres”, a Mann’s Brown Ale começou por ser produzida com um ABV de 5%, mas Thorpe reduziu-o até aos 2,7%. Ao contrário da Stout, cuja doçura muitas vezes provinha da lactose que lhe era adicionada, a Mann’s Brown Ale servia-se da sua suavidade e do baixo teor alcoólico para realçar o seu caráter doce. 

Quais as características da London Brown Ale?


Cervejas desaparecidas: London Brown Ale


A London Brown Ale é uma ale doce e cuja complexidade do malte traz-nos notas de caramelo e toffee. Pode ser vista como uma versão menos torrada da Milk Stout. 

Aroma: Maltado e moderadamente doce, quase sempre com um caráter rico de caramelo e toffee. Pouco ou nenhum aroma de lúpulo, mas com qualidades terrosas e florais.

No copo: De cor castanho médio a castanho escuro, podendo, em algumas ocasiões ser quase preta. Cerveja opaca, de espuma baixa a moderada, de cor esbranquiçada a dourada. 


Na boca: Corpo médio, mas a doçura residual pode dar-lhe uma impressão mais pesada. A carbonatação é média a média-baixa, mas a textura é cremosa e suave. O teor alcoólico situa-se entre os 2,8% e os 3,6%.


Sabor:  Sabor profundo, maltado e doce de caramelo e toffee, no paladar, e duradouro no final. Podemos encontrar algumas notas de café e biscoito, assim como notas frutadas dos ésteres, normalmente provenientes de frutas escuras. O sabor do lúpulo é baixo a inexistente, assim como o sabor torrado ou amargor do malte preto. O final é moderadamente doce, com um retrogosto suave e maltado.

London Brown Ale: queda e ascensão

Os contos de fadas existem sobretudo nos livros de ficção, pelo que a versão atualizada da London Brown Ale tardou a tornar-se popular.  A história mudaria com o início da Primeira Guerra Mundial e a percepção, por parte do Governo inglês, de que era necessário reduzir o teor alcoólico das bebidas. Por duas razões: por um lado, havia que poupar em matérias-primas essenciais para os esforços de guerra e reconstrução do país; por outro, era imperativo combater a crescente embriaguez pública. 


A resposta da indústria cervejeira foi imediata e, entre 1914 e 1919, as bebidas reduziram em 25% o seu teor alcoólico. Este movimento teve até direito a um nome: Great Gravity Drop (“grande queda da gravidade”, em português). Uma das cervejas que mais beneficiou desta medida foi a Mann’s Brown Ale, que viu a sua popularidade aumentar durante estes anos. Outras marcas cervejeiras apressaram-se a produzir e distribuir a sua própria versão da London Brown Ale, o que contribuiu para o ressurgimento do estilo.

London Brown Ale vs Northern English Brown

Apesar de o estilo Brown Ale ser associado, sobretudo, à capital britânica, incorporando por isso o seu nome, a cerveja não se cingia às fronteiras de Londres. A norte surgiu a Northern English Brown, cerveja com várias diferenças da prima londrina: mais alcoólica, mais amarga e com uma cor que varia entre o vermelho e o castanho-âmbar. Curiosamente, características que têm mais em comum com a English Porter do que com a London Brown Ale. 


Hoje, podemos encontrar um pouco da London Brown Ale na Mann’s, cerveja que detém 90% da quota de mercado deste estilo cada vez mais difícil de encontrar. Cerveja de garrafa, a Mann’s é frequentemente misturada, nos pubs, a barris com características distintas da sua, nomeadamente suavidade e amargor. 

 

De acordo com o Beer Judge Certification Program (BJCP), a London Brown Ale e a Northern English Brown são agora, simplesmente, British Brown Ale. Entre estas, ainda existe um caso de relativo sucesso: a Newcastle Brown Ale. Quanto à London Brown Ale original, dificilmente sairá da Revolução Industrial e da era pré-Vitoriana. Mas o seu papel na História, e na cultura inglesa, ninguém o tirará.

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