Cervejas desaparecidas: Gose
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Cervejas desaparecidas: Gose

Há um milénio que o estilo Gose é produzido na Alemanha, com algumas pausas temporais que alteraram os seus ingredientes e sabor. Conhece melhor o estilo de cerveja que já vai na sua terceira reencarnação.

A cultura cervejeira é tão vasta e antiga que algumas das suas histórias merecem uma série na Netflix, de tanto parecerem ficcionadas. Veja-se o caso da Gose, uma cerveja de trigo, de fermentação alta, fabricada desde o ano 1000 em Goslar, uma pequena cidade da Baixa Saxónia, na Alemanha. Durante cerca de 700 anos, a reputação da Gose não saiu das fronteiras da pequena localidade, banhada pelo rio Gose, sendo uma espécie de segredo mal guardado por parte dos locais. Tudo mudaria em 1738, quando um grupo de cervejeiros de Goslar, com olho para o negócio, começou a vender a Gose nos grandes mercados de Leipzig, situados a 180 quilómetros da sua cidade. 


O sucesso da nova cerveja foi imediato e as encomendas não chegavam para a sede dos habitantes de Leipzig. Insatisfeitos com a falta da Gose, estes começaram a produzir a cerveja na cidade, apropriando-se do seu nome e características. A popularidade era tal que, no início do século XIX, existiam cerca de 80 tabernas exclusivas da cerveja Gose em Leipzig.


Para esta fartura muito contribuiu o empresário cervejeiro  Johan Gottlieb Goedecke que, já estabelecido na cidade há vários anos, decidiu produzir a Gose em três fábricas construídas na vila de Döllnitz, a 40 quilómetros de Leipzig.

Quais as características da Gose?


A Gose original é uma cerveja de trigo altamente carbonatada, ácida e frutada, com um caráter contido de coentro e sal e baixo amargor. Deve ser servida em copos cilíndricos tradicionais. 


Aroma: Leve a moderadamente frutado a maçã. A acidez é leve e o coentro perceptível, podendo ter uma qualidade aromática a limão e uma intensidade moderada. A acidez e o coentro dão-lhe uma impressão viva, brilhante e refrescante.


No copo: Cerveja não filtrada, com turvação moderada a total. A espuma branca é moderada a alta, com boa retenção e efervescência. A cor é amarela. 


Na boca: Corpo médio-baixo a médio-cheio, devido à presença do trigo, mas sem sensação pesada. O sal, quando percebido, pode dar uma qualidade levemente formigante. O teor alcoólico situa-se entre os 4,2% e os 4,8%. 


Sabor:  A acidez é perceptível, como um toque de limão no chá gelado. Sabor moderado de malte a pão e massa. Caráter frutado leve a moderado de maçã, frutas de caroço e limão.

Gose: ascensão e queda


Com a vasta experiência cervejeira da família Goedecke, cuja cerveja já era líder de mercado em Leipzig, a produção da Gose chegou a atingir 1 milhão de garrafas por ano. Ainda assim, o estilo manteve-se regional e bem longe dos números atingidos pelas famosas cervejas de cidades como Munique.

 

Com o eclodir da Primeira e, sobretudo, da Segunda Guerra Mundial, a produção da Gose, assim como a de outras cervejas regionais alemãs, terminou. A crise alimentar durante e após o conflito de 1939-1945 foi um dos motivos responsáveis por este desfecho, uma vez que todos os cereais eram destinados à produção de pão e não de cerveja. 

 

Quando, em 1945, o governo da recém-criada República Democrática Alemã (RDA) encerrou as fábricas de Döllnitz, a população local virou-se para outros estilos de cerveja, produzidos em fábricas maiores e já nacionalizadas pelo conglomerado de cerveja VEB. 

 

Como resultado desta asfixia, as cervejas de fermentação baixa - as lager, como a Pilsner - começaram a substituir as tradicionais ale, cervejas de fermentação alta. A Gose, uma cerveja regional e rara, foi uma das que desapareceu do circuito económico local.

Apesar de tudo, as pessoas não esqueceram a Gose. Em 1949, um antigo empregado da fábrica de Döllnitz começou a produzir pequenas quantidades desta cerveja de trigo em Leipzig, a partir de notas escritas à mão. A fábrica foi herdada pelo seu sobrinho mas, apesar dos esforços familiares, a popularidade da Gose era tão baixa que a cervejeira fechou definitivamente em 1966. Foi o segundo desaparecimento da Gose. 


Em 1989, a queda do Muro de Berlim e a reunificação da Alemanha poderiam ter dado um novo fôlego à Gose, mas o pouco investimento feito na reconstrução de Leipzig, em detrimento de Berlim, e o facto da Gose utilizar coentros como ingrediente, indo, assim, contra a Lei da Pureza Alemã, impediu o seu renascimento.


À terceira é de vez


Mas a Gose ressuscitaria novamente. Em 1986, o empresário Lothar Goldhahn reabriu uma das velhas tabernas da Gose, encerrada em 1943 devido à guerra. Contratou um empregado da cervejeira Wurzler, que a produzia nos “bons velhos tempos” e um antigo microbiólogo que, no período de separação alemã, trabalhou como barman: os três recomeçaram a produção da Gose. A taberna renovou o interesse dos locais pelo estilo e em 1995 a Gose começou a ser produzida, em outsourcing, na fábrica Andreas Schneider, uma cervejeira bávara. Mas se o estilo mantém o nome, a cerveja não é a mesma: da qualidade da água aos maltes distintos, são várias as diferenças entre a Gose original, e já desaparecida, e a sua versão mais recente.


Hoje, a Gose produzida em Leipzig é uma cerveja de trigo com metade de malte Pilsner, metade de malte de trigo, coentros, sal e ácido láctico acrescentado ao mosto. A sua acidez é ligeiramente menos intensa que a Berliner Weisse ou a Gueuze. O aroma a coentro que, tal como o sal, tem uma utilização mais comedida, é similar à Witbier. Por fim, no copo, a Gose é turva como a Weissbier


O interesse americano


Na Alemanha, Leipzig continua a ser o verdadeiro mercado da Gose. Mas o estilo é exportado para mais de 10 países e não passou despercebido aos inovadores norte-americanos: dos 400 cervejeiros que, em todo o mundo, produzem a Gose, a grande maioria encontra-se nos Estados Unidos.

 

A história deste estilo termina como iniciou. Para fechar o ciclo, a Gose começou a ser produzida em Goslar pela primeira vez desde 1869. O nome do estilo é o mesmo, os ingredientes também, mas o sabor é distinto. Um dia, quem sabe, um cervejeiro revivalista recupere a verdadeira Gose.

Uma cerveja realmente diferente


No século XIX, e ao invés das cervejas tradicionais, a Gose não era fermentada em fábrica, mas sim nas próprias tabernas, em garrafas de vidro de gargalo estreito e fundo em forma de balão. A levedura subia até ao gargalo da garrafa, que se encontrava fechada por uma espécie de cápsula ou rolha que mantinha a cerveja dentro do recipiente. 


Cerveja Gose

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