Roma será sempre acidade ondenos sentimos imediatamente arrebatados, capazes de conduzir uma Vespa no caos do trânsito e com vontade de devorar pizzas antes de irmos ver alguns dos mais belos quadros de Caravaggio ou os frescos de Rafael. É, talvez, a cidade que faz a síntese mais improvável e inspiradora entre monumentos de mármore resplandecente e ruínas colossais num ambiente cosmopolita e romântico. Tudo isto com muito sangue quente à mistura, dolce fare niente q.b. e uma gastronomia do outro mundo.

Juntemos-lhe, agora, algumas das melhores cervejas da atualidade e temos o cenário perfeito para a próxima viagem. E sim, mesmo que já lá tenhas ido, precisas de voltar. Nem que seja para visitar um bar icónico ou um dos muitos festivais de cerveja que por ali se organizam todos os anos. Há melhor acompanhamento para uma boa pasta caseira do que uma cerveja deliziosa?

Jogar (e ganhar) em casa do inimigo

Sabemos que a resposta à pergunta anterior pode não ser assim tão consensual: é que estamos em Itália e o vinho leva algum de avanço. Mas a verdade é que são cada vez mais os que optam por uma birra – que é como quem diz, cerveja – para acompanhar a sua refeição. Para isso apontam os dados da Associação de Produtores de Cerveja e Malte de Itália – a AssoBirra –, segundo a qual o consumo daquela bebida no país tem aumentado consistentemente até 2019, ano que antecedeu a pandemia da Covid-19. Nesse ano,cada italiano bebeu um litro mais que no ano anterior, para um total de 34,6 litros de cerveja consumida per capita.

Estes números explicam-se, em parte, pela revolução cervejeira que se tem vindo a sentir ao longo da última década. Centenas e centenas de pequenas unidades de produção de cerveja artesanal têm vindo a instalar-se no país, ao ponto de ser difícil dar conta de todas as novidades. Difícil, mas não impossível. Porém, antes de te dizermos os sítios que não podes falhar na tua visita à Cidade Eterna, levamos-te ao cinema.

Umas férias de cerveja na mão

Não é de estranhar que Audrey Hepburn e Gregory Peck tenham conquistado meio mundo com Férias em Roma. Realizado por William Wyler em 1953, o filme conta-nos a história de uma princesa cansada de ser princesa (Hepburn no papel que lhe deu o óscar de melhor atriz) que é resgatada por um jornalista (Gregory Peck) durante uma viagem a Roma. O repórter mostra-lhe a cidade de uma ponta à outra e ela apaixona-se – pela cidade e por ele, mas isso é outra história.

O que se sabe é que ninguém fica indiferente aos encantos de Roma. E sabe-se também que, se o filme fosse realizado hoje, o mais certo é que a descoberta da cidade começasse numa das zonas mais trendy - Trastevere. Porquê? Porque foi ali que Manuele Colonna, um amante de cerveja, decidiu instalar, em 2001, o Ma Che Siete Venuti A Fà, um pub dedicado à sua bebida preferida. Tudo isto numa épocaem que tal era ainda considerado ousadia e raridade. “Não amadurecemos, fermentamos” é o mote da casa pioneira, que revolucionou a cena cervejeira italiana e onde é possível encontrar 16 cervejas alla spina, ou seja, à pressão. Prova-as depois de admirares os impressionantes mosaicos dourados da fachada da Basilica di Santa Maria, aquela que é considerada a mais antiga igreja da cidade, construída no século III.

Outra paragem obrigatória, já no Centro Storico, perto de Campo dei Fiori, é o Open Baladin Roma. O Baladin é tido como o primeiro projeto dedicado à produção e venda de cerveja artesanal do país, fundado em 1996 pelo inovador Teo Musso, em Piozzo, no norte de Itália. Em 2009, Musso levou o conceito para a capital e o caminho que tem percorrido até hoje é gigantesco, numa homenagem à persistência e à busca pela perfeição. “Com a minha cerveja quero criar paradoxos”, diz aquele que é considerado um dos representantes mais importantes de uma nova maneira de olhar para esta bebida. Nas prateleiras iluminadas atrás do bar encontra-se uma vasta seleção de cerveja italiana engarrafada, à qual se juntam 40 marcas vendidas à pressão. Recomendamos a Isaac, a Witbier popular da casa, com sabor a especiarias. Vai saber bem depois de um dia passado nas redondezasa visitar o Panteão, a Piazza Navona ou a Chiesa di San Luigi dei Francesi.

Na zona do Vaticano, seria imperdoável não visitares a L’Osteria di Birra del Borgo, o enorme espaço de um dos mestres cervejeiros italianos mais brilhantes - Leonardo Di Vincenzo. Aqui, o antigo académico dedica-se ao que mais gosta de fazer: “Recontar a história da cerveja sempre de maneira diferente.” Quem quiser, pode ainda enveredar pelos cocktails (com cerveja, claro) do projeto Jerry Thomas.

Um ícone da cerveja italiana

A história da cerveja em Roma não começou na última década. Nem sequer neste século. Birra Peroni é o nome da cerveja que, em 1864, começou a ser fabricada na cidade. Criada uns anos antes, em 1846, por Francesco Peroni, a procura registada pela cerveja levou à construção de uma segunda fábrica em Roma, a cargo do filho, Giovanni. Nos décadas de 1950 e 1960, a marca tornou-seum ícone da cerveja italiana, assim como a sua meia-irmã: a Peroni Nastro Azzurro.

Ainda que a Birra Peroni já não seja italiana (em 2003 foi comprada pela multinacional SABMiller que, em 2016, a vendeu à japonesa Asahi), a verdade é que continua a ser produzida em Roma e está indiscutivelmente associada ao país e ao estilo de vida italiano, sendo presença assídua nos muitos festivais de cerveja que se organizam em Roma. Se em Roma devemos ser romanos, nada como começar a nossa aventura pela Cidade Eterna com um golo refrescante desta cerveja. Vamos a isso?

PERONI

Uma das cervejas mais populares de Itália

·    Começou a ser fabricada em Roma em 1864.

·    Do tipo International Lager.

·    Tem um teor alcoólico de 4,7%.

PONTOS A VISITAR

Ma Che Siete Venuti A Fà

Via Benedetta, 25

00153 Roma

https://www.football-pub.com/

Open Baladin Roma

Via degli Specchi, 6

00186 Roma

https://www.baladin.it/open-baladin-roma

L’Osteria di Birra del Borgo

Via Silla, 26

00192 Roma

http://osteria.birradelborgo.it/